segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Será mesmo que ela sabia???

Ela já sabia
Ela já sabia que o amor não existia. Por isso, tratou de inventá-lo.

Começou pelas pontas dos dedos. Pintou as unhas de laranja-desmaido, da cor de amor quando quer desmorrer. Assim que secaram, levou-as para ele ver. Durante a noite, desfilou as mãos cuidadosamente manchadas de tinta pelo corpo do moço. Pousou-as nas costas dele e mirou longamente o amor inventar-se ali nas pontas de seus dedos. O amor era laranja. Cor de laranja.


Ela já sabia que o amor não existia. Por isso, tratou de inventá-lo.

Também comprou uma porção de vestidos. Já sabia que tudo que não existe vem embrulhado em vestidos rodados. Encantados. Feitos os de princesa. Traje a rigor para encontrar o lugar-nenhum, lá no reino perdido do beleléu, onde mora o amor, bem ao lado do latifúndio do infinito. De rodado-encantado, dançou no corpo dele. O amor era de era uma vez. E agora, era a vez de ser feliz para sempre.



Mas, ela já sabia que o amor não existia. Mesmo.

E as pontas dos dedos já não alcançavam a sua melhor invenção. Tentou o vermelho. Rosa. Marrom. Laranja. Rosa. Vermelho. Vermelho. Roxo. Laranja. Durante noites, passou procurando o tom do amor. As mãos desfilando pelo corpo do moço sem rumo. Tateando sem encontrar. Cor de laranja? Rosa. Marrom. Laranja. Laranja. Unha. Vermelho. Unha. Vermelho. Unha. Unha. Unha. Unha. Unha. E ela nunca mais voltou à manicure.



Mas, ela já sabia que o amor não existia. Mesmo.
Depois de tirar todos os vestidos rodados, um a um em cima do corpo dele, conheceu o desencanto. Desembrulhou-se. Rasgou as fantasias. Emborralhou-se. Já não cabia no lugar-nenhum e nem transbordava no infinito. Sabia que nunca ninguém jamais estivera por lá, nem divinamente embrulhado em ouro.

Ela já sabia que o amor não existia. Mesmo. E nem achava mais graça em inventá-lo.

(E quem quiser, que invente outros).

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